Jesus venceu a morte e está vivo. Não só nesta noite santa da Vigília Pascal, mas em todas as circunstâncias em que ouvimos a voz do sacerdote aclamar: O SENHOR ESTEJA CONVOSCO! Ao que todos os fiéis e ministros ordenados, em autêntica profissão de fé, exclamam: ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS. Graças a essa verdade esplêndida, celebramos nesta noite santa, com imensa alegria, o Cristo Ressuscitado e com renovada esperança a vida nova de ressuscitados. Por isso, o venerável dia santo da Páscoa é o Domingo primordial, do qual derivam todos os outros domingos do ano. Domingo a domingo, celebramos com a Igreja a Páscoa semanal, que é o Dia do Senhor.
O Atos dos Apóstolos no capítulo 10, 34.37-43, relata o esplendor da Ressurreição, quando Pedro anuncia a Ressurreição de Cristo. Pedro, na casa do centurião romano Cornélio, na Cesárea, expõe o “kerigma”, núcleo central da fé cristã. Ele anuncia Jesus como o ungido de Deus, descreve a atividade do Messias fazendo o bem e curando os oprimidos, testemunha sua morte na cruz e sua ressurreição, concluindo que “quem nele crer, recebe a remissão dos pecados”. Em seguida, batiza a Cornélio e toda a sua família. É o primeiro pagão a ser admitido no grêmio do cristianismo por um dos Doze, como que numa prefiguração da vida nova que nasce de Jesus para todos os homens, e não só para os judeus.
As primeiras testemunhas do Ressuscitado são os discípulos, que anunciam a proposta de Salvação para que chegue a todos os homens. São Paulo, na primeira Carta aos Coríntios (5,6-8) recorda que no Batismo fomos sepultados com Cristo e com ele ressuscitado, exortando-nos a viver com Cristo uma vida nova: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto…” (1Cor 5, 6-8).
João, o discípulo amado, descreve a reação dos discípulos diante da descoberta do “sepulcro vazio” (Jo 20,1-9). Ele nos apresenta Maria Madalena, no “primeiro dia da semana” (ou de um novo tempo), ainda “no escuro”, procurando no túmulo o Cristo morto. Diante do túmulo vazio, se retira horrorizada, pensando que haviam roubado o corpo do Senhor. Mas quando o encontra, a fé desponta em seu coração. É o encontro feliz com o Senhor Ressuscitado. Maria Madalena representa a comunidade dos discípulos, que sente a falta de Jesus.
João narra, ainda, que Pedro, para quem a morte significava fracasso, recusava aceitar que a vida nova passasse pela humilhação da cruz. Para o Príncipe dos Apóstolos, a Ressurreição de Jesus era uma hipótese absurda e sem sentido. Com surpresa, ele viu o túmulo vazio e os panos dobrados... mas manteve-se “no escuro”. São Pedro representa o discípulo que tem dificuldade em aceitar Jesus e seus valores, acostumado a reconhecer outros conceitos e padrões. Ele representa também a velha prudência dos dirigentes, que impede a caminhada do povo de Deus. Nesse “novo”, incompreensível à luz da lógica humana, tantas vezes se revela o Mistério de Deus e se encarnam ecos de ressurreição e de vida nova.
Ao contrário de Pedro, o discípulo amado identificou-se com Jesus e com seus valores. Para ele, a ausência do corpo não o impediu compreender que Jesus continuava presente entre eles. Fazia sentido que Jesus tivesse ressuscitado, por isso “viu e acreditou”. João representa, portanto, o discípulo ideal, em constante comunhão com o Mestre, o modelo perfeito do verdadeiro discípulo, convidando-nos a identificarmo-nos com Jesus, na escuta atenta e comprometida de seus valores e ao seu seguimento.
“Ressuscitei e estou convosco para sempre”.
Estas palavras convidam-nos a contemplar Cristo ressuscitado, fazendo ressoar em nosso coração a sua voz. Com o seu sacrifício redentor, Jesus de Nazaré tornou-nos filhos adotivos de Deus, de tal modo que agora também nós podemos inserir-nos no diálogo misterioso entre Ele e o Pai. Assoma à mente aquilo que Ele disse um dia aos seus ouvintes: “Tudo Me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (Mt 11,27).
Nessa perspectiva, sentimos que a afirmação dirigida hoje por Jesus ressuscitado ao Pai – “Estou convosco para sempre” –, como que por reflexo, diz respeito também a nós, “filhos de Deus e co-herdeiros de Cristo, se sofremos com Ele para sermos também glorificados com Ele” (Rom 8,17). Graças à morte e ressurreição de Cristo, também nós hoje ressurgimos para uma vida nova e, unindo a nossa voz à d’Ele, proclamamos que queremos ficar para sempre com Deus, nosso Pai infinitamente bom e misericordioso.
A Páscoa é o triunfo da vida, por isso este tempo santo expressa o drama mais profundo da realidade humana, a luta permanente da vida, que consegue reverter a dinâmica da morte. A Páscoa celebra o triunfo da vida sobre a morte, no momento em que a vida parece sucumbir e a morte parece vencer. A Ressurreição de Cristo nos garante que Deus assumiu a causa da vida.
A Páscoa não é apenas a comemoração de um fato passado. Ao contrário, é sempre um novo apelo de Deus, que nos convida a morrermos com Cristo, a nos separarmos do homem velho (do pecado), a fim de nos revestirmos do homem novo e ressurgirmos para uma vida nova na graça e na santidade.
A Páscoa não é apenas um dia especial do ano, mas um processo dinâmico, contínuo e permanente dentro de nós. Todos os dias, o cristão celebra a Páscoa, quando combate o homem velho do pecado, para se revestir do homem novo, em Cristo. Assim, todo Domingo, revivendo os mistérios pascais na celebração da Eucaristia, deve ser o momento forte da vivência dessa Páscoa, que parece não ter fim.
Vivendo a realidade da presença permanente de Cristo em nosso meio, deixemo-nos iluminar pela luz fulgurante deste dia solene. Com sincera confiança, abramo-nos ao Cristo ressuscitado, para que a sua vitória sobre o mal e sobre a morte triunfe também em cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas cidades e em nossa Pátria. Que as alegrias pascais iluminem todos os dias de nossas vidas.
Aleluia! Feliz Páscoa, porque Cristo ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!
Padre Wagner Augusto Portugal
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